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50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...
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Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

Há 19 anos, o Brasil perdia a imensa Cássia Eller. Para relembrar a data, reproduzo o realese que fiz para o lançamento de "Todo veneno vivo".

      Todo veneno vivo , um vigoroso retrato de Cássia Eller                          Cássia Eller era um bicho de palco. Nesse habitat especial, sua notória timidez dava lugar à exuberância artística da cantora, cuja voz rascante marcou a música brasileira nos anos 1990. Apresentações viscerais, calcadas nos seus admiráveis recursos vocais e na intuição própria aos grandes intérpretes, transformavam os shows de Cássia em experiências estéticas inesquecíveis.           Durante três noites de dezembro de 1997, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, a gravadora Polygram, atual Universal Music, registrou a turnê de lançamento do disco Veneno antimonotonia , tributo a Cazuza, produzido pelo poeta multimídia Waly Salomão, diretor do antológico show/disco Fa-tal , de Gal Costa. O encontro entre Cássia e Waly, que também dirigiu o show, rendeu um espetáculo de som e fúria ainda ...

Lança Perfume, 40 anos depois

Lançado em setembro de 1980 pela gravadora Som Livre, o oitavo disco solo de Rita Lee traz seu nome como título, mas ficou conhecido como Lança perfume , devido ao estrondoso sucesso da faixa que abre o lado A do long play . A contagiante marchinha pop carnavalesca (que cita Alah la ô , um clássico do gênero) com doses de disco music (a introdução que remete a What a Fool Believes , da banda The Doobie Brothers) ganhou rapidamente as programações musicais das rádios do país. Símbolo de antigos carnavais, o lança-perfume, originalmente criado para que os foliões borrifassem essências perfumadas uns nos outros, estava proibido desde a década de 1960 por seus efeitos alucinógenos. Contudo, o artefato-fetiche voltou à boca do povo graças à composição de Rita Lee e Roberto de Carvalho. Cabe lembrar que, com sua renovadora sacada pop, Lee e Carvalho produziram o melhor da marchinha carnavalesca por pelo menos três décadas. Além do Brasil, Lança perfume também fez sucesso na França, país ...

'Abraçar e agradecer' registra momentos especiais de Maria Bethânia

Em janeiro de 2015, Maria Bethânia estreou ‘Abraçar e agradecer’ (clique aqui para ler a resenha), o show comemorativo dos seus 50 anos de carreira, no Rio de Janeiro. Em fevereiro de 2016, a baiana de Santo Amaro da Purificação passou pela Marquês de Sapucaí, desfilando e sendo reverenciada pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Os dois memoráveis eventos fazem parte de ‘Abraçar e agradecer’, DVD duplo finalmente lançado pela gravadora Biscoito Fino. O belo espetáculo em que a majestosa dama movimenta-se sobre seu colorido tabuleiro de Led foi captado em agosto deste ano, em São Paulo. O tempo fez bem ao belo show dividido em 41 números, entre canções e textos. Estão lá os autores essenciais como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Ostentando a felicidade da estreia, Bethânia domina a cena com seu arsenal interpretativo e sua voz segura, acompanhada por músicos competentes. Para deleite do espectador, a câmera, seduzi...

'Suíte três rios', a música universal de Dan Costa

Nascido em Londres, o pianista e compositor Dan Costa lança seu primeiro álbum, ‘Suíte três rios’ ( ouça aqui )  Inspirado na música brasileira, que Dan ouve desde cedo, quando as canções de Tom Jobim enchiam sua casa, de família meio portuguesa, meio italiana, e no tempo em que estudou piano na UNICAMP, o álbum foi gravado no Rio de Janeiro. Para acompanhá-lo, o jovem artista arregimentou um time de excelentes músicos composto por Jaques Morelenbaum (cello), Ricardo Silveira (guitarra), Marcelo Martins (sax alto e tenor), Rafael Barata (bateria e pandeiro), Vittor Santos (trombone), Alberto Continentino (baixo), Teco Cardoso (sax barítono), Marcos Suzano (percussão). A cantora Leila Pinheiro dá voz à dissonante ‘Bossa Nova’, cuja letra cita o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, inspiração para o nome do disco. O jazz, influenciado por gêneros musicais brasileiros que nomeiam a maioria das faixas – ‘Chorinho’, ‘Samba’, ‘Baião’, ‘Maracatu’ e ‘Modinha’, além da já c...

Enredo singular do artista é destaque no Sambabook Jorge Aragão

A quinta edição da série multimídia ‘Sambabook’, concebida pela empresa Musikeria, presta tributo a Jorge Aragão, cantor e compositor carioca que comemora 40 anos de carreira contados a partir da gravação de ‘Malandro’ (Aragão/ Jotabê), lançada por Elza Soares em 1976. Como de costume, a escalação dos cantores mistura renomados sambistas, como Martinho da Vila (‘Coisa de pele’), Beth Carvalho (‘Pedaço de ilusão’) e Zeca Pagodinho (‘Quintal do céu’) e artistas vinculados a outros gêneros musicais, como Anitta (‘Coisinha do pai’), Lenine (‘Toque de malícia’) e Ivan Lins (‘Alvará’). Apesar da relativa diversidade de convidados, as novas versões sofrem com a excessiva reverência que acompanha a série, que já homenageou João Nogueira (1941 – 2000), Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Dona Ivone Lara. Seguindo à risca os arranjos originais, o ‘Sambabook’ engessa a criatividade dos intérpretes. Ainda assim, a força da natureza chamada Elza Soares se sobressai em ‘Identidade’ (Aragão), samb...